Anunciação de Nossa Senhora
Festa, dia 25 de março
Paulo Francisco Martos 
Numa pequena casa da cidade  de Nazaré, ocorreu o acontecimento mais importante da História da  humanidade: a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade no  seio puríssimo de Maria. A Santa Igreja comemora esse transcendental  acontecimento a 25 de março, precisamente nove meses antes do Natal.
O evangelista São Lucas narra o fato com simples palavras.
Inclinando-se respeitosamente diante da Santíssima Virgem, o Arcanjo São Gabriel disse-lhe: "Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo" (Lc 1, 28).
Consideremos as palavras: Cheia de graça.  A menor das graças vale mais que todo o universo material. Pois a graça  é a participação da vida divina. Se tivéssemos que escolher entre a  menor das graças e todos os tesouros do mundo, deveríamos, sem a menor  hesitação, preferir a graça.
Ora, desde o primeiro  instante da concepção, que foi imaculada, a graça divina inundara a  alma de Maria e essa graça não cessaria de crescer em proporções que  desafiam os cálculos de nossas débeis inteligências. Por isso, São  Gabriel A chamou: Cheia de graça.
Humildade da Virgem 
Maria  Santíssima compreendia perfeitamente a imensidade de Deus e o nada da  criatura. Devido à sua prodigiosa humildade, Ela se espantou ao ouvir  aqueles louvores.
Vendo a mais perfeita das criaturas ter sentimentos tão    despretensiosos, o embaixador celeste acrescentou: "Não  temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus; eis que conceberás  e darás à luz um Filho, a Quem porás o nome de Jesus. Ele será grande,  será o Filho do Altíssimo. Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e  reinará eternamente e o seu reino não terá fim" (Lc 1, 30,33).
Espírito profundamente lógico de Nossa Senhora 
Logo após o primeiro elogio feito por São Gabriel, a Santíssima Virgem "meditava que saudação seria esta" (Lc 1, 29).
E quando o anjo anunciou-lhe que Ela seria Mãe de Deus, a Virgem indagou: "Como se fará isso, pois Eu não conheço varão?". E ele respondeu-lhe: "O  Espírito Santo descerá sobre ti, e a virtude do Altíssimo te cobrirá.  E, por isso mesmo, o Santo que há de nascer de ti será chamado Filho de  Deus" (Lc 1, 35-37).
União Hipostática 
Compreendendo ser essa a santíssima vontade de Deus, a Virgem disse ao Anjo: "Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra" (Lc 1, 38).
"Ó poderosa, ó eficaz, ó augustíssima palavra! -- exclama São Tomás de Vilanova (1488-1555). Com um Fiat (faça-se) criou Deus a luz, o céu, a terra, mas com este Fiat de Maria um Deus se tornou homem como nós".
Então  operou-se a maior de todas as maravilhas. Pela ação do Espírito Divino  começou a formar-se no seio da Virgem puríssima o corpo do Menino Jesus.  O mesmo Espírito Santo uniu a esse corpo uma alma humana e juntou corpo  e alma à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Essas três partes de  uma mesma operação foram simultâneas, e esse sublime mistério é  denominado pela Teologia de União Hipostática. Na Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo -- verdadeiro Deus e verdadeiro Homem -- se unem as naturezas divina e humana.
Maria, Mãe de Deus
A  Virgem é Mãe de Deus porque gerou alguém que é Deus. Não é, porém, Mãe  da Divindade ou da natureza divina; é Mãe duma Pessoa Divina enquanto  produziu, no tempo, a natureza humana dessa Pessoa.
Ora, Maria é mãe no sentido próprio.  Pois o sujeito gerado é Deus ou uma Pessoa Divina, e não uma pessoa  humana que depois foi feita Deus. O filho da Virgem é Deus no momento da  concepção. No mesmo instante em que foi homem, foi Deus e homem, porque  a natureza humana de Jesus estava destinada a subsistir, unida à  natureza divina, na Segunda Pessoa divina.
Esses pontos são doutrina de fé, explicitamente definida e de primeira importância no dogma da Encarnação, pois compreende:
1. A declaração da natureza humana de Cristo, sem a qual não haveria a maternidade de Maria.
2. A declaração da natureza divina de Cristo; do contrário, o filho de Maria não poderia chamar-se Deus.
3.  A declaração da união hipostática das duas naturezas na mesma pessoa, a  divina; só assim pode ser um mesmo, o filho de Deus-Pai e o filho de  Maria.
4. A declaração desta união desde o  instante da concepção de Cristo; do contrário, a mãe de Cristo-Homem não  se poderia chamar e ser Mãe de Deus.
Maria é chamada verdadeiramente Mater Dei, em latim, ou Theotokos, em grego, conforme definiu solenemente o Concílio de Éfeso, no ano de 431.
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Fontes de referência:
- Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria Santíssima, Vozes, 1964.
- Cônego Raymond Thomas de Saint-Laurent, La Vierge Marie, Aubanel Frères - Avignon, 1927.
Frei J. Armindo Carvalho, O.P., Maria no plano de Deus, Cadernos Culturais, 1, Braga, 195 

 




