quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

                 A Imaculada Conceição
                                                                                                
                                                                                                                 Plinio Corrêa de Oliveira

A Imaculada Virgem Maria, Mãe do Divino Infante, concebida sem pecado original, é a obra-prima de Deus, superior a tudo quanto foi criado, com exceção somente da Humanidade Santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo.


Pela Bula Ineffabilis Deus(1854), o Bem-aventurado Papa Pio IX solenemente proclamou o Dogma da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, cuja festividade é celebrada pela Igreja no dia 8 do corrente mês. Para essa comemoração — que enche de gáudio os corações dos católicos do mundo inteiro — selecionamos um comentário do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, proferido no dia 1º-12-1964.

                                                  ***

“Nossa Senhora, tendo sido concebida sem o pecado original, desde o primeiro instante de seu ser não conheceu nenhum dos efeitos que o pecado original produz nos homens. Portanto, toda a impulsividade desregrada, toda a desordem da fantasia, toda a preguiça da vontade, enfim, todos os defeitos que existem em nós, em Nossa Senhora não existiram. Ela tinha uma ordenação humana natural perfeita.
Além disso Ela era, dentro da ordem humana, uma verdadeira obra-prima — quer dizer, o que Deus criou, na ordem natural, de mais alto no sexo feminino. De maneira tal que a personalidade dela não era apenas comum, concebida sem o pecado original, mas a mais alta personalidade feminina de todos os séculos. E isso, a perder de vista em comparação com qualquer outra, e posta em estado de isenção completa de culpa original.
Além do mais, a graça santificante — concedida à Santíssima Virgem Imaculada numa abundância inaudita e insondável — foi correspondida perfeitamente por Ela a cada momento. Assim se compreende o que seria a ordem interna, a pureza, a virtude e a santidade de Nossa Senhora”.

sábado, 26 de novembro de 2011

Por que a imagem de Nossa Senhora das Graças não foi cunhada com o globo terrestre nas mãos, como viu Santa Catarina Labouré?


Na Medalha Milagrosa que percorreu e continua a percorrer o mundo, Nossa Senhora das Graças aparece com os braços estendidos e as mãos abertas, e de seus dedos descem as graças para os fiéis.Nos manuscritos de Santa Catarina Labouré, porém, fica claro que o desejo manifestado em 1830, por Nossa Senhora, era ser representada com um globo nas mãos, em atitude de quem o oferece a Deus, e dos anéis que levava nos dedos é que fluiriam as graças para os homens.

 


Por que foi modificada a figura da Medalha?

No processo de beatificação de Catarina discutiu-se o assunto. Ao que tudo indica, foi uma lamentável simplificação determinada pelo próprio Pe. Aladel, provavelmente por receio de que causasse estranheza em Roma, uma representação pouco usual da Virgem.
De qualquer forma, é inegável que, sobre a medalha, como ela afinal foi feita, desceram as bênçãos e graças de Maria Santíssima, e que, portanto, nenhuma modificação se deve fazer no modelo bem conhecido.

Quando, em 1832, foram distribuídas às religiosas da Rue Du Bac as primeiras medalhas cunhadas, Santa Catarina Labouré, sem dar a entender que era a vidente, comentou: “Agora é preciso propagar essa medalha”.

E quando em 1876, pouco antes de morrer, Santa Catarina se abriu com sua superiora, Irmã Jeanne Duffès, diante da perplexidade desta sobre o globo que não figurava na medalha, disse enfaticamente: “Oh! Não se deve tocar na Medalha Milagrosa!”

A essa altura, mais de um bilhão de Medalhas Milagrosas já haviam sido cunhadas e semeavam graças pelo mundo inteiro.

 Extraído do livro: “A verdadeira história da Medalha Milagrosa” – Armando Alexandre dos Santos

domingo, 9 de outubro de 2011

Nossa Excelsa Soberana

                                                                                                 Plinio Corrêa de Oliveira

Há 80 anos Nossa Senhora Aparecida foi solene e publicamente proclamada Rainha e Padroeira do Brasil, em apoteótica cerimônia na cidade do Rio de Janeiro.

Na atual encruzilhada que o País atravessa, mais do que nunca necessitamos da proteção de nossa Augusta Rainha e Padroeira, cuja festa é comemorada no dia 12 deste mês.
Em 31 de maio de 1931, Nossa Senhora Aparecida foi proclamada Rainha e Padroeira do Brasil. No ano anterior, no dia 16 de julho, Ela já havia recebido do Papa Pio XI esses gloriosos títulos.
A solene proclamação ocorreu na Esplanada do Castelo, no Rio de Janeiro (então capital do País), depois de esplendorosa procissão com a milagrosa Imagem da Virgem Mãe Aparecida, com a participação de todos os bispos brasileiros, do Chefe de Estado, ministros, autoridades civis e militares, além de mais de um milhão de fiéis.

Para recordar tão grata e triunfal comemoração, transcrevemos abaixo trecho extraído de um cartão de Natal redigido por Plinio Corrêa de Oliveira, em dezembro de 1991.

                                                 * * *
“É com os olhos postos em Nossa Senhora Aparecida que transpomos os umbrais desse ano sem nos deixarmos flectir pelas ameaças que o futuro parece trazer consigo, e ao mesmo tempo sem nos deixarmos seduzir pelas perspectivas não raramente ilusórias, que ainda se apresentam por vezes ao homem contemporâneo.
O Brasil terá um esplêndido porvir, se ele seguir o caminho de Nossa Senhora. E é esse provir, carregado de bênçãos, de virtude e de grandeza cristã, que imploro a Nossa Senhora Aparecida para nossa pátria”.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pode a Santíssima Virgem operar vários milagres ao mesmo tempo?

 O milagre é sempre um acontecimento extraordinário. Qual seria a necessidade de operar vários deles simultaneamente? Pode haver alguma circunstância em que Nossa Senhora assim se manifeste?

Valdis Grinsteins

Madonna del Duomo, na catedral de Ancona
No século XVIII filosofias ímpias abalaram a moralidade pública. E quando a Revolução Francesa eclodiu com toda sua carga de ódio anticatólico, Roma era uma das muitas cidades européias onde a integridade moral se encontrava em estado lamentável. Seus bailes e diversões imorais, condenados por numerosos santos, degradavam o panorama da cidade que deveria ser santa por excelência.
Por ocasião da Revolução de 1789 muitos otimistas pensavam que os problemas da França ficariam limitados a esta nação, e que a tormenta revolucionária seria contida pela barreira dos Alpes. Assim, em 1793, quando a França estava em guerra com praticamente metade da Europa, parecia a muitos – e ninguém poderia prever – que os revolucionários franceses pudessem dispor de tempo para planejar um ataque a Roma.
Mas em 1796 tudo mudou. No dia 2 de março, um então obscuro general chamado Napoleão Bonaparte foi nomeado para o comando do exército. E já no mês seguinte começou a ganhar batalhas. O otimismo desapareceu em 12 de junho, quando os territórios do Papa foram invadidos.
Hoje é difícil ter idéia do que significava a perspectiva da invasão de um exército revolucionário numa época em que ainda havia restos de espírito de cavalaria. Esperava-se que um soldado se comportasse com honra, pois afinal ele representa um país, uma bandeira, um ideal. Mas o exército revolucionário desconheceu a honra, além de negar validade aos preceitos divinos. Donde os saques, abusos de toda ordem, incêndios, latrocínios, etc. O próprio governo revolucionário francês roubava desinibidamente bens dos países ocupados, despojando-os de seus tesouros culturais, artísticos e religiosos. Hitler e Stalin continuaram, no século XX, essa política de depredação cultural iniciada com Napoleão.
Os Estados pontifícios haviam desfrutado de relativa calma durante um bom período. As guerras anteriores haviam poupado seu patrimônio cultural. Por isso, em tais Estados, especialmente na cidade de Roma, até então capital cultural do Ocidente, a perspectiva de tal invasão e a destruição que dela seguramente adviria afiguravam-se como um horror. E foi neste momento que numerosas manifestações de Nossa Senhora tiveram início.

Sucessão de varias manifestações sobrenaturais

Curiosamente, a Santíssima Virgem escolheu para manifestar-se através de diversas imagens existentes nos cruzamentos de quase todas as ruas da Roma antiga, e também de outras cidades. Essas imagens mantinham viva a devoção popular e guiavam as pessoas de uma rua para outra, graças às velas acesas naquela época em que não havia iluminação pública.
A primeira dessas manifestações marianas ocorreu no dia 25 de junho de 1796 na cidade de Ancona, integrante dos Estados do Papa, quando as tropas revolucionárias se aproximavam do local. A Madonna del Duomo, ou seja, da catedral, moveu seus olhos e fixou as pessoas ajoelhadas diante dela. E isto não poucas vezes, mas ininterruptamente durante meses.
No dia 9 de julho daquele ano começaram manifestações semelhantes em Roma. A primeira a mover os olhos foi a Madonna dell´Archetto (Nossa Senhora do Pequeno Arco), bela imagem entronizada no final de uma estreita rua. Acorreram então multidões de fiéis, sendo necessário convocar a força pública para assegurar a ordem.
Pouco depois outra imagem, seguida de uma terceira, repetiam o prodígio. Em determinado momento, nada menos que 122 imagens, em várias cidades dos Estados pontifícios, igualmente moveram os olhos, e isto durante longo período de tempo. La Madonna dell´Archetto moveu os olhos durante três semanas. Várias outras manifestações sobrenaturais também foram observadas em imagens de Nossa Senhora.
O próprio Papa Pio VI foi testemunha desses milagres, além de numerosos cardeais, bispos e outras autoridades religiosas e civis. O Pontífice ordenou uma investigação oficial, em virtude da qual hoje dispomos de registros com numerosos testemunhos. Esses fatos constituíram ótima oportunidade para resgatar almas submergidas no pecado. Numerosos pregadores pronunciaram sermões em diversas praças, entre eles São Vicente Strambi. A situação moral de Roma começou a melhorar, cessando as vinganças, as brigas e as blasfêmias. Muitas igrejas permaneceram abertas dia e noite para que as pessoas pudessem se confessar.
Além disso, era impossível não constatar a ocorrência de muitos milagres em capelas particulares ou de conventos, mas sobretudo através das imagens existentes nos cruzamentos das ruas. Milhares de pessoas os testemunharam, dentre elas numerosos ateus e livres-pensadores, alguns dos quais deixaram registro em seus diários privados ou em cartas. Recordo que, quando eu morava em Roma, pessoas conhecidas afirmavam com a maior naturalidade que ali acontecia um milagre em cada canto de rua.

Advertências misericordiosas da Mãe de Deus

Esses milagres obtiveram de Deus que Roma fosse poupada, ao menos por certo tempo. O Tratado de Tolentino, entre o Papa e a França, foi ratificado em fevereiro de 1797. Mas a imoralidade tinha raízes muito profundas e, não tendo havido uma proporcional correspondência à graça, nem mesmo esses milagres eliminaram inteiramente os maus costumes. Em vista disso, um ano depois, em fevereiro de 1798, os revolucionários franceses entraram na Cidade Eterna e começaram as desgraças a afligi-la. O Papa foi feito prisioneiro e levado para fora do Vaticano, houve saques organizados e os assassinatos passaram a fazer parte do quotidiano.
Alguém poderia perguntar: como é possível que milagres tão notórios não sejam hoje mais conhecidos, falando-se pouquíssimo deles, ou quase nada? Ocorre que, de modo geral, a mídia só difunde aquilo que para ela tem interesse ideológico-esquerdista de ser propagado. Embora haja muita difusão de noticias a respeito de desgraças e calamidades do mundo inteiro, o leitor raramente encontrará noticiado algum milagre. Entretanto, aí estão os milagres de Lourdes, que continuam a acontecer de modo admirável em nossos dias. Para certas pessoas, não é possível haver milagres porque, em sua concepção, Deus não existe. Logo, mesmo que certo gênero de jornalistas presenciasse um autêntico milagre, poucos o noticiariam...
Diante do exposto, surge a pergunta: o que Nossa Senhora quis dizer com as manifestações que narramos? Como boa Mãe, Ela procurou advertir seus filhos a respeito das catástrofes que se aproximavam. No sentido literal da palavra, convidou-os a abrir os olhos. E isto não uma ou duas vezes, mas em repetidas ocasiões, com centenas de imagens milagrosamente movendo os olhos, esses órgãos tão nobres do corpo humano.
Um dos piores efeitos do pecado é a cegueira espiritual, devido à qual as pessoas não querem reconhecer as funestas consequências daquilo que fazem. O pior cego é aquele que não quer ver. A Virgem Santíssima procura fazer misericordiosamente com que seus filhos vejam claramente a realidade. E, para isso, multiplica prodígios que, analisados em seu conjunto, não podem ser explicados senão por uma ação sobrenatural.
Em 1796, à vista das desgraças que se aproximavam, numerosas foram as advertências recebidas pelo povo romano. E hoje? Será que não há advertências semelhantes? Assim sendo, o que pensar de Fátima (Portugal), Rue du Bac, La Salette e Lourdes (França), Akita (Japão), Kibeho (Ruanda), e tantas outras aparições milagrosas, várias delas acompanhadas de impressionantes mensagens à humanidade?

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A mais preciosa graça em matéria de devoção mariana

"Nossa Mãe Santíssima abriu para nós uma porta de misericórdia que ninguém fechará."

Nossa Senhora, por ser Mãe de Deus, é a título especial Mãe dos homens. Portanto nossa Mãe.
Acredito que a mais preciosa graça que se pode ter em matéria de devoção à Santíssima Virgem é quando Ela condescende em estabelecer, por laços inefáveis, uma relação verdadeiramente materna com cada um de nós. Isso se pode dar de mil modos, mas, em geral, Ela se revela principalmente como nossa Mãe quando nos tira de algum apuro, de um modo tal que fica inesquecível por toda a vida. Ou quando Ela nos perdoa alguma falta que praticamente não tinha perdão, mas que Ela, por uma dessas bondades que só as mães têm, passa por nós e perdoa. Elimina nossa falta como Nosso Senhor Jesus Cristo curava a lepra.
Desse modo, a falta — que não merecia ser perdoada, não tinha atenuante e só merecia a cólera de Deus —, pelo poder soberano de Nossa Senhora e com a indulgência que só as mães têm, é completamente eliminada. Ela, como Mãe, com um sorriso apaga a falta e o passado fica esquecido.
A Santíssima Virgem concede graças desse gênero, de um modo tal que, para a vida inteira, a alma fica marcada a fogo — mas com um fogo celestial — com essa convicção: de que poderemos recorrer a Ela mil vezes, em circunstâncias mil vezes mais indefensáveis, e Ela sempre nos perdoará de novo, porque nossa Mãe Santíssima abriu para nós uma porta de misericórdia que ninguém fechará.
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Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em 20 de novembro de 1963. Sem revisão do autor.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Nossa Senhora do Monte Carmelo 

16 de julho -Devoção mariana que remonta ao Profeta Elias

                                                                                  José M. Moraes (Revista Catolicismo - Julho de 1995)

O cenário onde nasceu a Ordem da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo - instituição profética - é rico em simbolismo. Nos confins da Galiléia e da Samaria, as encostas do Carmelo tocam no mar Mediterrâneo. No horizonte, em direção ao rio Jordão, emerge o Tabor e, em toda a redondeza, outras grandes testemunhas dos mistérios da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo: Nazaré, Caná, Tiberíades, Corozaim.
Carmelo, monte santo do Antigo Testamento! Nas florestas que outrora o cobriam, o Profeta Elias e seu discípulo Eliseu foram procurar a solidão e o recolhimento, para melhor compreenderem os desígnios de Deus e indicarem a rota que, depois, foi seguida por milhares de continuadores.
Para compreender e adquirir verdadeira devoção a Nossa Senhora do Carmo - ou do Monte Carmelo - é de toda conveniência admirar o protótipo de varão apostólico, combativo e indomável, que disse ao próprio Criador: "Zelo zelatus sum pro Domino Deo exercituum" - "Eu me consumo de ardente zelo pelo Senhor Deus dos exércitos" (III Reis 19, 14). Este foi Elias, o Fundador da Ordem do Carmo.

Elias ressuscita o filho da viúva de Sarepta

Devido aos pecados cometidos em Israel, o Profeta Elias compareceu diante do Ímpio rei Acab e anunciou-lhe terrível castigo: "Viva o Senhor de Israel, em cuja presença estou, que nestes anos não cairá nem orvalho nem chuva, senão conforme as palavras de minha boca."
Sendo a escassez já muito grande em todo o país, o varão de Deus retirou-se para Sarepta e pediu alimento a uma pobre e honesta viúva. Esta respondeu-­lhe que possuía apenas um pouco de farinha e de azeite, para ela e seu pequeno filho; consumidos esses restos morreriam de fome.
Elias disse à viúva: "Não temas, mas vai, e faze primeiro para mim um pãozinho; e depois o farás para ti e para teu filho. Pois assim fala o Senhor Deus de Israel: a vasilha de farinha não se esvaziará e a jarra de azeite não acabará, até o dia em o Senhor Deus enviar a chuva sobre a face da terra".
A mulher fez como Elias lhe havia dito e, como recompensa de sua fé, deu-se o milagre da multiplicação da farinha e do azeite, os quais não diminuíam nos recipientes em que estavam colocados.
É próprio dos Santos e Profetas passarem por grandes sofrimentos. Deus exige que tenham fé e confiança heróicas.
Depois da humilhação de ter que pedir alimento a uma pobre viúva, maior provação aguardava Elias. O único filho da viúva morreu e, aflita, a pobre mulher disse ao Profeta: "Que te fiz eu, Ó homem de Deus? Porventura vieste a minha casa para excitares em mim a memória dos meus pecados, e matares o meu filho?"
Confiante, Elias clamou a Deus. E o Senhor atendeu sua oração e "a alma do menino voltou a ele; e ele recuperou a vida". Essa foi a primeira ressurreição de um morto realizada no Antigo Testamento.

Combatividade invencível

O Fundador da Ordem do Carmo foi magnífico exemplo, não só de fé e confiança, mas também de combatividade.
Depois de três anos em que não caiu "nem orvalho nem chuva", Elias apresentou-se diante do rei Acab, o qual lhe disse: "Porventura és tu que trazes perturbado Israel?"
Numa manifestação de santa ousadia, o Profeta respondeu ao rei: "Não sou eu que perturbei Israel, mas és tu e a casa de teu pai, por terdes deixado os mandamentos do Senhor, e por terdes seguido Baal".
Depois de increpar o rei, Elias increpou o povo: "Até quando claudicareis para dois lados, inclinando-vos umas vezes para o Senhor e outras para o ídolo de Baal? Se o Senhor é Deus, segui-O; se é Baal, segui-o. E o povo não lhe pôde dar resposta".
Elias, então, realizou no Monte Carmelo prodigioso milagre, fazendo vir fogo do céu para consumir o holocausto, a lenha e as pedras do altar por ele edificado. E, quanto aos 450 falsos profetas de Baal, principais responsáveis pelos pecados do povo, "Elias levou-os até a torrente de Cison, e lá os matou" (III Reis, 18,40).

Nuvenzinha símbolo da Imaculada Conceição

Depois dessa extirpação salutar e admirável, Elias pôs-se a rezar no alto do monte Carmelo, implorando a Deus que cessasse a terrível seca. Eis, então, que se levantou do mar uma "pequena nuvem, como a pegada de um homem", a qual, em pouco tempo, deu origem a uma grande chuva (III Reis, 18,44).
Essa nuvenzinha é o símbolo de Nossa Senhora e de sua Imaculada Conceição. Porque, assim como a leve e alígera nuvem surgiu do mar salgado, sem conter seu amargor, a Virgem Maria surgiu da humanidade culpada, sem a culpa.
Elias compreendeu esse simbolismo e foi o primeiro a cultuar Nossa Senhora. E a doutrina da Imaculada Conceição - que em 1854 foi proclamada como dogma por Pio IX - foi sempre defendida pela Ordem do Carmo.

Eliseu e o manto de Elias

Embora se tenham passado mais de 2.800 anos, o Profeta Elias não morreu. Quando foi arrebatado desta Terra por um carro de fogo, lançou seu manto para o discípulo e também profeta Eliseu. Este, tendo pedido e recebido em dobro o espírito de Elias, passou a dirigir a Ordem do Carmo, a qual nunca se extinguiu, apesar de todas as tragédias ocorridas na Palestina.
Segundo abalizados intérpretes da Sagrada Escritura, Elias virá no fim do mundo - juntamente com Henoc, que também não morreu - para combater o Anticristo.

A primeira igreja em honra de Nossa Senhora na era cristã

De acordo com piedosa tradição, atestada pela Liturgia da Igreja, no dia de Pentecostes um grupo de homens, devotos dos santos Profetas Elias e Eliseu, abraçaram o Cristianismo. Tinham sido discípulos de São João Batista, que os preparara tendo em vista o advento do Salvador. Partiram de Jerusalém e no Monte Carmelo erigiram um santuário votado à Santíssima Virgem, no mesmo lugar onde Elias vira aparecer aquela nuvenzinha anunciadora da fecundidade e, ao mesmo tempo, símbolo da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Adotaram eles o nome de Irmãos da Bem-aventurada Maria do Monte Carmelo.

Libertados pela espada dos cruzados

Depois de muito sofrerem durante as perseguições movidas pelos Imperadores romanos, e na época da invasão da Terra Santa pelos maometanos, os carmelitas foram libertados pela espada dos cruzados.
Muitos peregrinos do Ocidente entraram então na Ordem do Carmo, permanecendo na Terra Santa ou voltando para seus países de origem. Entre os novos carmelitas, destacaram-se São Cirilo, Santo Ângelo e São Simão Stock.
Com a queda do Reino católico de Jerusalém, os carmelitas da Palestina foram novamente perseguidos pelos muçulmanos e muitos foram martirizados. São Cirilo, que se tornara Geral da Ordem, recorreu a Nossa Senhora.
Esta apareceu-lhe e comunicou-lhe: "É vontade de Meu Filho e minha que a Ordem do Carmo não seja somente uma luz para a Palestina e a Síria, mas que ilumine o mundo inteiro. É por este motivo que Eu lhe atrai e lhe atrairei de todos os paises numerosos filhos".
De fato, a Ordem do Carmo floresceu em várias nações. Porém, no século XIII, muitas incompreensões surgiram contra ela no Ocidente.

Recepção do escapulário das mãos de Nossa Senhora

Em 1251, São Simão Stock, alquebrado pela idade e pelas austeridades - vivera durante vinte anos no tronco oco de uma árvore, como penitência -, foi a Cambridge, Inglaterra, para inaugurar novo convento carmelita. Mas sua alma muito soma devido às oposições de que a Ordem do Carmo era objeto sobretudo em seu país.
Na noite de 16 de julho de 1251, no auge de sua dor, São Simão Stock rezava e sua ardorosa prece transfor­mou-se num cântico maravilhoso:
Fios Carmeli, Vitis florigera
Splendor caeli, Virgo puerpera,
Singularis,. Mater mitis
Sed viri nescia, Carmelitis, Da privilegia
Stella maris.
Flor do Carmelo, Vide florida, Esplendor do Céu, Virgem Mãe Admirável.
Mãe cheia de doçura, Sem conhecer varão, Aos carmelitas Dai privilégios.
Ó estrela do mar.
São Simão Stock rezou e cantou durante toda aquela noite de 16 de julho. Aos primeiros sinais da aurora, Nossa· Senhora apareceu-lhe rodeada de anjos, vestida com o hábito do Carmo. Ela sorria e trazia nas suas virginais mãos o escapulário da Ordem, com o qual revestiu o varão de Deus, dizendo-lhe: "Este é um privilégio para ti e para todos os carmelitas. Quem morrer portando este escapulário não cairá no inferno".
Não podemos, entretanto, deixar-nos levar pela falsa idéia de que a simples posse e uso do escapulário é suficiente para nos obter o Céu. Para isso, é necessário levar vida cristã, cumprindo os Mandamentos.

Privilégio sabatino

Nossa Senhora é supremamente misericordiosa e nos consegue muito mais do que Lhe pedimos. Assim, para quem porta dignamente o escapulário, concedeu a Mãe de Deus o privilégio sabatino.
Em 1316, a Virgem apareceu ao Cardeal Tiago d'Euze, que, no dia seguinte à visão, foi eleito Papa com o nome de João XXII.
Na bula que João XXII escreveu para testemunhar essa aparição, o Papa declara que Nossa Senhora prometeu libertar do purgatório, no primeiro sábado após a morte, aqueles que morrerem com o escapulário, Daí o nome de privilégio sabatino.
Mas para receber essa graça é necessário rezar diariamente o Pequeno Ofício da Virgem Maria, fazer abstinência de carne nas quartas-feiras e sábados, e guardar a castidade segundo seu estado. As duas primeiras práticas podem ser comutadas pelo sacerdote autorizado a impor o escapulário.

Vinde Mãe, não tardeis!

A Ordem do Carmo forneceu à Santa Igreja um número incontável de Santos. Entre eles, destacamos São João da Cruz e Santa Teresa de Ávila, que promoveram, no século XVI, a Reforma da Ordem, na qual se haviam introduzido muitos abusos. E no século passado, um florão desabrochou na Ordem Carmelitana: Santa Teresinha do Menino Jesus, que representou um marco na espiritualidade católica.
Neste fim de milênio em que a avalanche neopagã entroniza modernos Baals, sempre mais cultuados, recorramos de modo especial a Nossa Senhora do Carmo e a Santo Elias.
Assim como o Fundador da Ordem carmelitana exterminou os profetas de Baal, conceda-nos ele a insigne graça de sermos implacáveis com nossos defeitos. E que tenhamos a combatividade sagrada para travarmos uma luta sem tréguas contra os erros e vícios de nossa época, com a mesma radicalidade e zelo que animaram o Profeta do Monte Carmelo.
E, considerando que a abominação está atingindo os lugares mais insuspeitados, peçamos com ardor a Nossa Senhora: Vinde Mãe, não tardeis! Fazei cessar essa situação ominosa e que venha com urgência o Reino de Vosso Imaculado e Sapiencial Coração, profetizado por Vós em Fátima!

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Obras consultadas
- Bíblia Sagrada, Edições Paulinas, São Paulo, 1933, livros 111 e IV dos Reis.
- Plinio Corrêa de Oliveira, O Escapulário, a Profissão e a Consagração Interior - Conferência pronunciada no III Congresso Nacional da Ordem Carmelitana, em 15-11-1958, publicada no "Mensageiro do Carmelo", nº especial, 1959.
- M. M. Vaussard, Le Carmel, Bernard Grasset, 1929.
- Dom Prosper Guéranger, L'Année Liturgique, Maison Alfred Mame et Fils Éditeurs Pontificaux, Tours, 1922, tomo IV.
- Jean Le Solitaire, Aux Sources de Ia Tradition du Carmel, Beau­chesne, Paris, 1953.
- Padre Gabriel de Sainte Marie Madeleine, Mater Carmeli - La Vie Mariale Carmélitaine, College International de Ste. Thérese, Roma, 1931.
- Padre João Batista Lehmann, Na Luz Perpétua, Livraria Editora Lar Católico, Juiz de Fora, 1950, vol. 11.
- Vies des Saints iIIustrées pour tous les jours de I'année, Maison de Ia Bonne Presse, Paris, s/d, festa de 16 de julho.

domingo, 3 de julho de 2011

Por ocasião da Festa da Visitação de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel, apresento aqui uma pequena conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira proferida no dia da Festa de São João Batista.
Belíssimas palavras  do líder Católico, que durante toda sua vida foi um exímio Devoto da Santíssima Virgem, narra a nobre visitação Dela a sua prima quando esta esperava o nascimento do Santo Precursor de Nosso Senhor Jesus Cristo.
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São João Batista:
austeridade  e intransigência

Plinio Corrêa de Oliveira -"Santo do Dia" - 23 de junho de 1967
“São João recebeu a graça de uma felicidade incomparável, provavelmente já no seio de sua mãe, com a visita da Santíssima Virgem a Santa Isabel.
Assim sendo, talvez o primeiro que tenha (..?..) da divina e virginal maternidade, não separando nunca o Filho de sua Mãe, ao mesmo tempo que adorou Jesus, honrou Maria acima de todas as criaturas. “Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto de vosso ventre”. É a afirmação unânime da eleição que, pronunciando Isabel essas palavras, nada mais fez do que ser porta-voz de seu filho. O início da vocação de João como testemunho da Luz primaria (..?..) e ela dá a primeira expressão de admiração e louvor que a anima. Anjo ele mesmo, como o chamavam os profetas, retoma (..?..) à Soberana do céu e da terra.
Assim, já se vê de perto o papel de Maria na santificação dos eleitos. O grito de sua alma eleva-o à santidade ao primeiro som da voz da Virgem. Foi por ele que, com grande pressa, após a Anunciação, Ela atravessou as montanhas. Mas reserva ainda a João outros favores. Até então silenciosa, entoa diante dessa criança seu canto sublime. E dá ao Batista a plena compreensão do mistério inefável. Como santificou o precursor de seu Filho, a Mãe de Deus (..?..) primeira lição incomparável do filho de Isabel. Mas três meses ainda continua essa educação maravilhosa. E com isso, melhor (..?..) que será essa criança? A Dispensadora das graças guardou para João a primeira efusão dessa torrente de graça da qual Ela se tornara o divino reservatório.
O caudal que escapa dessa cidade santa não será suspenso no correr dos tempos, levando a cada alma os seus eflúvios, mas (..?..) em toda a sua força inicial ainda não dirigida, encontra João em primeiro lugar. Quem poderia medir essa corrente? Os seus efeitos? A Santa Igreja não o diz. Mas de onde virá a fonte que causa o misterioso crescimento de João sob o olhar atônito dos anjos? (..?..) de vista a fraqueza desse corpo de criança, ante a grande maturidade de sua alma, (..?..) da misteriosa natividade do precursor. É grande o homem que Isabel deu ao mundo (..?..)”.
Esse comentário de D. Guéranger é cheio de vistas magníficas. Ele se estriba no fato de que São João Batista, ainda no ventre materno, era dotado de toda lucidez. Porque sem ser concebido sem pecado original - ao menos nada indica que tenha sido - foi isento dessa culpa logo depois de concebido, razão pela qual tinha inteligência, tinha compressão das coisas que se passavam, e estava em oração no ventre de Santa Isabel quando Nossa Senhora chegou.
Então, a primeira coisa que D. Guéranger ressalta bem é que Nossa Senhora não foi a Santa Isabel  apenas para ajudá-la, mas que o motivo primeiro da visita era ajudá-la para que gerasse perfeitamente aquele menino que Ela sabia ser o precursor prometido pela Escrituras. O menino passou três meses vendo constantemente Nossa Senhora ajudar Santa Isabel. Ele ouvia a voz de Nossa Senhora; durante esses três meses ele compreendeu Nossa Senhora.
Os senhores podem compreender o que são dois ou três meses em companhia de Nossa Senhora! Ele mostra muito bem que aquele que os profetas  chamaram de Anjo era uma criatura de tal maneira excelsa que estava acima de todos os homens. Nosso Senhor dele dizia, mais ou menos, não me lembro bem a frase, que de homem não havia nascido ninguém maior do que João Batista.
Então, essa criatura, logo no despertar de sua vida, foi acordada para o conhecimento do mundo pela voz de Nossa Senhora. Ele ouviu Santa Isabel cantar a grandeza de Nossa Senhora e ouviu Nossa Senhora entoar o Magnificat. Ouviu esse hino, essa canção tão bem estruturada, tão nobre, ao mesmo tempo tão racional, tão bem pensada. Ele ouviu e compreendeu todos os sentidos que o Magnificat tem, depois o canto da voz de Nossa Senhora e tudo o mais, tudo concorreu para elevar a alma dele.
Ou seja, o primeiro ensinamento desse homem privilegiado foi um ensinamento de Nossa Senhora. Quando a corrente de ensinamentos e de graças de Nossa Senhora — diz ele muito bem — estava no seu primeiro eflúvio para cair sobre a humanidade, o lado mais esplêndido caiu sobre São João Batista, sobre sua alma, para que ele fosse um anjo e fosse na frente do Messias, cortando as montanhas e enchendo os vales para preparar os caminhos do Senhor. Cortando as montanhas, quer dizer, combatendo os vícios; preenchendo os vales, quer dizer, acabando com os pantanais e buraqueiras da sensualidade. Em outros termos, fazendo o trabalho da Contra-Revolução para preparar os caminhos do Senhor.
Ele diz algo a respeito da santidade de São João Batista, mas o que diz é pouco porque ele teve de compreender que não há palavras humanas para descrever bem o que essa santidade possa ter sido. Uma santidade de tal maneira — e de tal maneira máxima a do primeiro momento do apostolado de Nossa Senhora — que os homens podem entrever, não podem descrever! Eles podem admirar, mas eles não podem conhecer inteiramente.
Aí está o Batista, o austero, o Batista terrível! O Batista que vai para o deserto e que vela. E depois sai da solidão e começa a pregação. O Batista zeloso que prepara as almas judaicas, das quais haveria de nascer a Igreja Católica. Porque o primeiro reduto de católicos foi [o] dos judeus e [das] pessoas preparadas pelo apostolado de São João Batista - mas o Batista juiz, o Batista fiel, o Batista devotado!
Quando Nosso Senhor apareceu, ele disse: “A Ele compete crescer, a mim compete diminuir; compete-me agora desaparecer: eis o Cordeiro de Deus, eis Aquele que tira os pecados do mundo! Minha missão está cumprida. Não há mais nada para eu fazer, porque o Sol da justiça se levantou e eu não era senão uma ave que cantava o Sol que ia nascer. A partir do momento em que o Sol nasceu, eu não tenho outra coisa a fazer senão morrer por Ele”.
aí nós temos a morte, ao mesmo tempo indignada e enlevada de São João Batista. São João Batista e sua luta contra Herodes, contra Salomé, mártir da castidade! O homem que sabe enfrentar a impureza num trono e que sabe perder sua vida para dizer a verdade como ela é. Ele foi detestado, tirado dessa vida, mas tirado num ato de supremo amor. É evidente que quando ele morreu estava pensando no Cordeiro de Deus que tinha visto e no canto do Magnificat que tinha ouvido. Foi nesse enlevo que sua alma se desprendeu do corpo e que foi esperar Nosso Senhor no Limbo.
Os senhores podem imaginar o que terá sido o encontro de Nosso Senhor e São João Batista no Limbo, quando a alma do mártir, tão pura e ainda lavada pelo sangue derramado há pouco, foi de encontro a Ele. O que terá dito Nosso Senhor a São João Batista que O havia aclamado? E depois, coroando de glória São João Batista no Céu!
E aí então, como através de um espelho, podemos ver algo das virtudes de Nossa Senhora. Porque ele é fruto da alma de Nossa Senhora, da formação de Nossa Senhora. Ele é fruto da formação, e pelo fruto se conhece a árvore. Nossa Senhora, a ter formado um homem que tivesse todo o agrado dEla, teria formado a ele.
Que Nossa Senhora nos faça tais! Que possamos ouvir, também nós, a voz dEla dentro de nossas almas. Que nós também tomemos a forma de verdadeiros discípulos dEla para, contra os hereges contemporâneos, vivermos aqueles Apóstolos do Últimos Tempos que devemos viver. É o que nós pedimos, de toda alma, a São João Batista e a Nossa Senhora...

sábado, 14 de maio de 2011

Os passos de Deus na História?

Os passos de Deus na História?

Catástrofes se multiplicam em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. Entretanto, o recente terremoto do Japão, seguido de tsunami, nos leva a perguntar se tais cataclismos não seriam sinais do Divino Criador de todas as coisas, com a intenção de alertar os homens que d’Ele se afastam dia a dia. Uma tentativa de interpretação dos fatos à luz das revelações de Nossa Senhora de Akita.
                                                                                                                                            Diogo Waki


As catástrofes têm aumentado no mundo em quantidade e intensidade, a ponto de não se poder negar a evidência de que algo está acontecendo de estranho. Ainda há poucos dias tivemos os deslizamentos na região serrana do Rio de Janeiro, sendo três cidades especialmente flageladas pelas chuvas: Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. Os montes como que derreteram, à semelhança de blocos de gelo expostos ao sol.
Quem não se lembra dos terremotos no Chile e no Haiti? Parece que aconteceram há poucos dias. Só no ano passado, centenas de milhares de vidas foram ceifadas em conseqüência de cataclismos, sendo o Haiti o país mais atingido, com 316.000 mortos. (vide artigo às pp. 18-21).
Ao longo de 2004, o Centro Nacional norte-americano de Pesquisa Geológica (USGS) contabilizou 228.802 mortes. Naquele ano, um dia após o Natal, terremoto de 9,1 graus abalou a ilha de Sumatra. Ondas gigantes provocadas pelo tremor na crosta terrestre causaram centenas de milhares de mortos no Sri Lanka, na Tailândia, Indonésia e Índia.
A catástrofe que se abateu sobre a nação japonesa
Assistimos agora à tragédia ocorrida no Japão, flagelado pelo maior sismo de sua história. Até o momento em que escrevemos, já foram registradas quase 10.000 mortes, com outro tanto de desaparecidos. Sem contar as ameaças terrificantes de explosão de usinas atômicas na região mais atingida pelo terremoto, seguido do tsunami.
Na tentativa de interpretar os fatos, poderíamos dizer o seguinte: os ateus — para os quais Deus não existe e todo acontecimento é uma fatalidade, uma evolução constante da matéria — dirão que se trata apenas de uma movimentação de placas tectônicas, e que provavelmente tudo acabará bem.
Por sua vez, os panteístas — para os quais Deus não é um ser transcendente, mas imanente, ou seja, confunde-se com a matéria e a própria natureza —, procuram explicar tudo como sendo a vingança da "Mãe Terra" (Gaia), agredida pelos homens devido ao aquecimento global, à destruição da camada de ozônio, à agressão ao eco-sistema, etc. Adotam essa posição (religião!?) certo número de ecologistas.
E para nós católicos? O que pensar dessas freqüentes e crescentes catástrofes em todo o mundo? A recente tragédia ocorrida no Japão não desperta em nós ao menos uma pergunta: não será mais um aviso para a humanidade?
Nosso Senhor Jesus Cristo chorou sobre Jerusalém
Nosso Senhor amou Jerusalém, a cidade perfeita, alegria do mundo inteiro. Entretanto, pouco antes de Ele ser crucificado, passando perto de suas muralhas, profetizou a sua destruição, que ocorreria como castigo pelo deicídio.
Quarenta anos se passaram sem que aquela profecia se cumprisse. Até que, nos anos 70 da era cristã, a surdez do povo aos apelos e admoestações de Nosso Senhor foi punida pelo exército de Tito, general romano, depois imperador, que invadiu e destruiu Jerusalém, inclusive o Templo, não deixando pedra sobre pedra.1
O mundo não deu ouvidos às advertências de Fátima
Não estaremos presenciando fato análogo? Com efeito, no ano de 1917, Nossa Senhora acenou em Fátima para um prêmio e um castigo. Disse que a Primeira Guerra Mundial acabaria, mas que no reinado de Pio XI sobreviria outra pior: foi a Segunda Grande Guerra. Afirmou ainda que, se os homens não mudassem de vida, a Rússia espalharia seus erros pelo mundo promovendo guerras e perseguições, os bons seriam perseguidos e martirizados, o Santo Padre teria muito que sofrer, várias nações seriam aniquiladas, mas que, por fim, seu Imaculado Coração triunfaria, sendo concedido ao mundo algum tempo de paz.2
A condição para que esses castigos não se abatessem sobre a humanidade seria a consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, a recitação do Terço e a Comunhão reparadora dos cinco primeiros sábados.
Como os homens não deram ouvidos a essas advertências, o mundo veio decaindo moral e espiritualmente, chegando hoje a abismos nunca antes imaginados.

Em Nova Orleans (EUA), novo apelo da Mãe de Deus

Em julho de 1972, uma das imagens peregrinas internacionais de Nossa Senhora de Fátima, esculpidas sob a orientação da Irmã Lúcia, verteu lágrimas diversas vezes, na cidade de Nova Orleans, nos Estados Unidos. Jornais do mundo inteiro estamparam com destaque o prodígio. O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira escreveu então, na “Folha de S. Paulo”, um belíssimo e grave artigo intitulado Lágrimas, milagroso aviso, no qual conclamava os leitores a atenderem à Mensagem de Fátima. Dizia que Nossa Senhora estava como uma mãe que, não tendo mais o que dizer ao filho, se limitava a chorar: “O misterioso pranto nos mostra a Virgem de Fátima a chorar sobre o mundo contemporâneo, como outrora Nosso Senhor chorou sobre Jerusalém. Lágrimas de afeto terníssimo, lágrimas de dor profunda, na previsão do castigo que virá”.3
A justiça de Deus pede o castigo, mas, por desígnios misteriosos do próprio Deus, Nossa Senhora intercede por nós, implorando misericórdia. Até quando Ela poderá suster o braço de seu Filho?
Porque o Ocidente não deu ouvidos à Mensagem de Fátima...
Transcorridos cinqüenta anos das aparições de Fátima, poucos se recordavam das trágicas e ameaçadoras palavras de sua Mensagem. Entretanto, sempre bondosa, Nossa Senhora escolheu um pequeno mas populoso país de glorioso passado católico – o Japão –, para na minúscula cidade de Akita (que em 1642 teve sua terra regada pelo sangue de 32 mártires católicos) renovar os apelos contidos na Mensagem de Fátima. Revelou então ali à Irmã Agnes Katsuko Sasagawa, noviça do convento das Servas do Sagrado Coração de Jesus presente na Sagrada Eucaristia, algo que não fora ainda revelado ao mundo e que pode ser aproximado da terceira parte do segredo de Fátima.
Há nesse convento uma imagem da Santíssima Virgem, esculpida em madeira por um artista japonês, inspirada na de Nossa Senhora de Todas as Nações, de Amsterdã. Tal imagem passou a ser conhecida como Nossa Senhora de Akita. Foi junto a ela que se darão fatos místicos que talvez expliquem os últimos acontecimentos sucedidos no Japão e no mundo.

Akita, guardiã de nova advertência

No dia 3 de junho de 1624, Masakage, filho do senhor feudal da região de Akita, mandou queimar vivos nesta cidade 32 cristãos. Talvez o fato de ter sido regada pelo sangue de mártires explique a predileção de Nossa Senhora por Akita, onde mais tarde a Mãe de Deus escolheria a Irmã Agnes para transmitir no Oriente um derradeiro apelo à conversão, porquanto no Ocidente a Mensagem de Fátima não tivera a aceitação devida.
Aliás, a ligação de Akita com Fátima é notória. Houve uma primeira aparição do anjo à Irmã Agnes, em 1969, paralela à havida em 1917 aos três pastorinhos. O celeste emissário também rezou com ela o Terço e ensinou-lhe a mesma oração que por ocasião da segunda parte do segredo Nossa Senhora ensinara aos videntes da Cova da Iria: “Quando rezais o Terço, dizei depois de cada mistério: ‘Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o Céu, principalmente aquelas que mais precisarem’”.4
Contudo, diversamente de Fátima, Nossa Senhora não apareceu de forma física em Akita. No período compreendido entre 1969 e 19825, além das aparições do anjo e dos fenômenos místicos da Irmã Agnes, sua presença se fez ali sentir através de uma imagem que lacrimejou 101 vezes, verteu sangue proveniente de um estigma da mão direita, e transpirou óleo de agradável perfume.

Irmã Agnes Katsuko Sasagawa, vítima expiatória

Em 1969, deu-se a primeira aparição do anjo à Irmã Agnes. Em 1973, passou por uma dura provação: ela ficou inteiramente surda. Neste mesmo ano, depois de uma visão na qual uma coorte celeste lhe apareceu em torno do tabernáculo adorando o Santíssimo Sacramento, ela recebeu na mão esquerda o estigma da Paixão de Nosso Senhor, provocando-lhe intensa dor e sofrimento. Nossa Senhora a estava preparando para receber sua mensagem. Nos meses que se seguiram, a Santíssima Virgem comunicou-se por três vezes com a Irmã Agnes que, apesar de sua surdez, ouvia a voz de Nossa Senhora estando diante da imagem.

Primeira mensagem da Mãe de Deus

“Minha filha, minha noviça, você foi muito dócil abandonando tudo para seguir-me. A surdez a incomoda? A chaga será curada, esteja certa. Seja paciente. Esta é a última prova. A chaga lhe causa muito sofrimento? Reze em reparação pelos pecados dos homens. Cada pessoa nesta comunidade é minha filha insubstituível. Você sabe rezar a oração das Servas da Eucaristia? Então vamos rezar juntas”.6

Segunda mensagem

“Minha filha, minha noviça, você ama o Senhor? Se você ama o Senhor, ouça o que eu tenho a lhe dizer. É muito importante. Você deverá dizer isso ao seu superior.
“Muitos homens neste mundo afligem o Senhor. Eu desejo almas que O consolem para aplacar a ira do Pai Celestial. Eu e meu Filho desejamos almas que reparem por seus sofrimentos e sua pobreza pelos pecadores e pelos ingratos.
“Para que o mundo possa conhecer Sua cólera, o Pai Celeste está preparando um grande castigo para todos os homens. Com meu Filho, temos intervindo muitas vezes para apaziguar a ira do Pai. Eu tenho evitado a vinda de calamidades oferecendo-Lhe os sofrimentos de Nosso Senhor na Cruz, seu preciosíssimo Sangue, e almas amadas que O consolam e constituem uma coorte de almas vítimas expiatórias.
“Orações, penitências e sacrifícios corajosos podem aplacar a cólera de Deus. Eu desejo isto também de sua comunidade... que ela ame a pobreza, que ela se santifique e reze em reparação pelas ingratidões e ultrajes de tantos homens. Recite a oração das Servas da Eucaristia com fervor, meditando no seu significado; coloque-a em prática; ofereça-a em reparação pelos pecados. Deixe ao esforço de cada uma, de acordo com a capacidade e a posição, de oferecer-se inteiramente ao Senhor.
“Mesmo em um instituto secular, a oração é necessária. As almas que querem rezar estão na via de viver em comunidade. Sem fazer acepção de pessoa, tenha muita fé e seja ardorosa em rezar para consolar o superior.
Depois de um silêncio, acrescentou: “É verdadeiro o que você sente em seu coração? Você está realmente decidida a ser a pedra rejeitada? Minha noviça, você que deseja pertencer ao Senhor sem reservas, ser digna esposa do Esposo, faça seus votos sabendo que você deve ser pregada na cruz com três cravos. Estes três cravos são a pobreza, a castidade e a obediência. Dos três, a obediência é o fundamento. Num abandono total deixe-se moldar pelo superior. Ele saberá como entendê-la e como dirigi-la.” 7
Terceira mensagem
Em 13-10-1973: “Minha querida filha, preste bem atenção ao que eu tenho a lhe dizer. Você deve informar ao seu superior.
Após um tempo de silêncio, afirmou: “Como eu lhe disse, se os homens não melhorarem e não se arrependerem, o Pai infligirá uma terrível punição a toda a humanidade. Será um castigo pior do que o dilúvio, como ninguém viu antes. O fogo cairá do céu e destruirá uma grande parte da humanidade... tanto o bom como o mau, não poupando nem os sacerdotes nem os fiéis. Os que sobreviverem se sentirão tão desolados que invejarão os mortos. A única arma que lhes restará será o Rosário, o Sinal deixado pelo meu Filho. Reze o Rosário todos os dias. E reze-o pelas intenções do Papa, dos bispos e dos padres.
“O trabalho do demônio infiltrará até mesmo na Igreja, de tal forma que veremos cardeais se opondo a cardeais, bispos contra outros bispos. Os padres que me veneram serão objeto de escárnio por parte dos seus confrades, as igrejas e os altares serão saqueados, a Igreja estará cheia daqueles que aceitam compromissos e o demônio pressionará muitos padres e almas consagradas para deixarem o serviço do Senhor.
“O demônio será especialmente implacável contra as almas consagradas ao Senhor. A lembrança da perda de tantas almas é a causa de minha tristeza. Se os pecados crescerem em número e gravidade, não haverá mais perdão para eles.
“Com coragem, fale ao seu superior. Ele saberá como encorajar a cada uma de vocês e fazer suas reparações”.8
— “Quem é o meu superior?”, pergunta a Irmã Agnes a Nossa Senhora.
— “Em ocasiões como esta você deveria ter pergunta mais importante a fazer”... – disse, em tom de repreensão, o anjo que assistia o diálogo de Maria Santíssima com a Irmã Agnes.
— “É que, além do bispo, eu tenho três superiores e por este motivo achei que era importante esclarecer isto.
“É o bispo Ito, que dirige a comunidade” — respondeu Nossa Senhora. Depois sorriu e disse: “Você ainda tem alguma pergunta? Hoje será a última vez que lhe falarei a viva voz. Doravante você obedecerá àquele que eu lhe enviar e ao seu superior”.
                                             * * *
As três mensagens acima estão contidas na carta pastoral que o bispo de Niigata e ordinário local, D. John Shojiro Ito, escreveu em 22 de abril de 1984, integralmente transcrita no livro de autoria do Padre Teiji Yasuda, O.S.V., capelão e diretor espiritual do convento. Em casos como esse, que tratam de visões e revelações particulares, é costume da Santa Sé deixar a cargo do ordinário local (no caso o bispo de Niigata) declarar se as referidas revelações são dignas de crédito ou não. Segundo consta na contra capa da versão inglesa do livro do Padre Teiji Yassuda – Akita – The tears and Message of Mary, por John Hafert –, o então Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, considerou “as mensagens da Virgem como dignas de crédito”.9

Conclusão
Alguém poderá perguntar: “Você está afirmando que o Japão está sendo castigado pela Providência?
Não digo nem sim, nem não. E não possuindo o dom do discernimento profético para interpretar os fatos, mantenho a indagação formulada no início deste artigo: A tragédia ocorrida no Japão não constitui mais um aviso para a humanidade?
É essa a questão que podemos e devemos levantar, para irmos analisando os acontecimentos que se forem desenrolando. Agiremos assim à imitação da Mãe de Deus, que à medida que se aproximavam e sucediam os episódios relativos à Paixão de seu Divino Filho, tudo conferia à luz das Sagradas Escrituras. Diante dos fatos catastróficos que ocorrem em qualquer parte do mundo, é lícito perguntar: Não serão os passos de Deus na História? Não serão os prenúncios de realização das numerosas mensagens pelas quais, antes de punir, Deus nos avisa misericordiosamente?
___________
Notas:
1. “Aproximando-se ainda mais, Jesus contemplou Jerusalém e chorou sobre ela, dizendo: Ó! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz!... Mas não, isso está oculto aos teus olhos. Virão sobre ti dias em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados; destruir-te-ão a ti e a teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não conheceste o tempo em que foste visitada” (São Lucas, 19, 42-44).
2. Cfr. As aparições e a mensagem de Fátima conforme os manuscritos da Irmã Lúcia, Antonio Augusto Borelli Machado, 46ª edição, junho de 1997, Artpress Indústria Gráfica e Editora Ltda., São Paulo – SP, p. 47.
3. "Folha de S. Paulo", 6-8-1972
4. As aparições e a mensagem de Fátima conforme os manuscritos da Irmã Lúcia, pp. 48-49.
5. The Meaning of Akita, by John M. Haffert, 101 Foundation, Chronological Order of the Events of Akita.
6. Idem, p. 6.
7. Ibidem, pp. 6 e 7.
8. Idem, ibidem pp. 7 e 8.
9. Akita The Tears and Message of Mary, by Teiji Yasuda, O.S.V. (english version by John M. Haffert, 1989), 101 Foundation, Inc Asbury, New Jersey, USA pp. 190-199.

terça-feira, 22 de março de 2011

Nossa Senhora de Laus

                                                                                                            Valdis Grinsteins (valdisgrinsteins@catolicismo.com.br)

Apelo à freqüência aos sacramentos

Nada mais importante do que acertar nossas contas com Deus durante a vida. A história ocorrida em Saint Etienne de Laus patenteia como a Virgem Santíssima nos incita à freqüência aos sacramentos.

Muitas vezes ouvi, de pessoas com má formação religiosa, que não precisam da Igreja e se arranjam diretamente com Deus, sem necessidade de intermediários. Em muitas delas, essa posição resulta do orgulho: por um lado julgam-se muito valiosas, podendo dispensar intermediários para tratar com Deus; por outro entra a ignorância da majestade de Deus que, estabelecendo a Igreja, determinou que todos os homens precisassem dela para receber os sacramentos. Os sacramentos são de tal importância, que a própria Virgem Santíssima tem aparecido em locais remotos, estimulando as pessoas a que os freqüentem. E algumas aparições se deram em locais minúsculos como Laus, na França.

Aldeia de oito casas
Saint Etienne de Laus fica localizada no sul da França. Ainda hoje tem poucas edificações, mas em 1664 era praticamente deserta. Para isso haviam contribuído as guerras de religião, que devastaram a região e destruíram casas, moinhos, estradas, igrejas, etc. Basta pensar que, das 190 igrejas da região, 120 ficaram inutilizadas. Como acontece habitualmente, com a guerra veio a pobreza. E a família de Benta Rencurel, a menina a quem Nossa Senhora apareceu, era realmente pobre. Aos 17 anos ela cuidava dos animais da família, não sabia ler nem escrever. Era muito simples, residindo próximo à aldeia.
Em maio de 1664 ela cuidava do seu rebanho, quando viu no prado uma Senhora com seu filho. Fez-lhe uma pergunta, mas não obteve resposta. Disse ainda algumas coisas, mas não conseguiu fazê-la falar. Não se importou muito, pois sentia-se à vontade na sua companhia. No dia seguinte, lá estava a mesma Senhora. Novo intento de iniciar conversação, e nada. Isso prosseguiu assim por mais dois meses, mas Benta não desanimou. Afinal a Virgem começou a lhe falar. Durante mais dois meses, diariamente Ela ensinava Benta a rezar, a ser paciente, a desapegar-se das coisas, etc.
No dia 29 de agosto, Nossa Senhora disse que ia se retirar. Benta ficou desolada, sem saber o que fazer, mas após um mês viu uma luz brilhar na colina diante da qual se encontrava. Indo lá, encontrou Nossa Senhora e queixou-se a Ela por ter-se ausentado tanto tempo. Atitude impertinente, até certo ponto compreensível numa simples pastorinha, mas Nossa Senhora lhe respondeu com suavidade: “Quando quiser me ver, daqui para frente, poderá fazê-lo na capela que está em Laus, onde cheira bem”.
A frase pode parecer exótica, pois não seria nada normal reconhecer uma capela pelo fato de que “cheira bem”. Acontece que, apesar de Laus ficar perto do prado onde Benta cuidava dos seus animais, ela nunca tinha ido lá, por ser o caminho de acesso difícil. Além disso a capela local não era grande, parecendo uma casa como as outras.

Capela que cheira bem
No dia seguinte Benta foi a Laus. No sentido mais literal da palavra, como boa camponesa, cheirava de casa em casa para descobrir a tal capela. As casas não ficavam uma ao lado da outra, e ao aproximar-se de uma última construção, notou que ali de fato cheirava bem.
Entrando, viu sobre o altar a Senhora, e esta lhe disse que tinha feito bem, ao ser paciente e procurar a capela. O altar estava coberto de poeira, e Benta ofereceu seu avental para que a Virgem ficasse sobre ele. Mas Ela agradeceu e não aceitou, acrescentando: “Em pouco tempo nada faltará, e você verá toalhas de altar, velas e outros ornamentos. Quero que você faça construir aqui uma igreja em honra de meu Filho. Muitos pecadores e pecadoras aqui se converterão”.
Como os leitores bem podem imaginar, num local tão pequeno as notícias do acontecido correram rapidamente. Mas muitas pessoas não acreditaram e as autoridades ordenaram uma investigação para constatar se algo havia de verdadeiro no que Benta estava contando.
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Em setembro de 1665 começou ai nvestigação. Os membros da comissão, sacerdotes experimentados, inicialmente duvidaram de Benta. Faziam-lhe todo tipo de perguntas escorregadias, mas ela se saiu bem. No quinto dia aconteceu um milagre: Catarina Vial, menina da localidade, inválida das duas pernas, levantou-se e foi caminhando até a capela, para a missa. Diante de milagre tão evidente, o resultado da investigação foi favorável. O passo seguinte era ampliar a capela, ou melhor, construir a nova igreja, conforme o pedido da Virgem. Na capela só cabiam trinta pessoas, o que se agravava por já começarem a chegar peregrinações de outros vilarejos.
Após o início das peregrinações, há relatos de numerosas curas espirituais e morais.
Como a região era pobre, para construir a nova igreja não havia recursos. De forma que se estabeleceu o costume de cada um que fosse em peregrinação levar uma pedra. Assim, com pouco dinheiro e boa vontade, acabaram fazendo tudo. O bom senso das pessoas do campo levou-as a não demolir a pequena capela para fazer a igreja, mas fizeram esta englobando aquela.
Assim como Benta reconheceu pelo perfume onde estava a capela, houve depois numerosas oportunidades em que grupos de pessoas sentiam um perfume desconhecido. Por exemplo, em 1690, de 24 de março até o fim de maio, as pessoas o sentiam, sendo que as flores tinham sido banidas da igreja, justamente para evitar confusões.

Provação e recompensa
Mas não pensemos que tudo correu sempre bem para Benta Rencurel. Em julho de 1692 estourou uma guerra, e o exército do duque de Savóia devastou a região. Benta, como a maioria da população, fugiu durante algum tempo. Ao voltar, tudo estava danificado. Pior ainda, dois dos bons padres que cuidavam da nova igreja haviam morrido. O bispo local nomeou dois novos padres, mas estes eram contra as peregrinações. Chegaram até a proibir, durante 15 anos, que Benta falasse aos peregrinos, os quais só podiam assistir à Missa dominical. Como se fosse pouco, alastrou-se uma epidemia de falsas aparições na região, cada uma mais ridícula que a outra, à maneira das falsas aparições que hoje em dia procuram desvirtuar Fátima. O desprestígio caiu também sobre Benta. Afinal ela superou todas essas provas, e a calma e a ordem voltaram a reinar.
Benta viveu 71 anos, falecendo no dia 28 de dezembro de 1718 em odor de santidade. As aparições foram aprovadas pela Igreja, e no dia 23 de maio de 1855 teve lugar a solene coroação da imagem, realizada pelo cardeal de Bordeaux, com seis bispos, 600 padres e 40.000 fiéis presentes.
Chama a atenção a preocupação de Nossa Senhora com a falta de assistência religiosa numa tão pequena população. Não é que as pessoas do local fossem atéias ou pouco religiosas, pois o fato de terem respondido com entusiasmo ao pedido da Virgem Santíssima para construir uma igreja mostra o contrário. Mas não basta ter boa vontade e praticar a religião sozinho, os sacramentos são indispensáveis. Nessa aparição, Nossa Senhora mostra que eles devem ser recebidos por todos, mesmo que residam em locais minúsculos, de pequena população. Devemos rezar à Virgem, pedindo que nos dê sempre a graça de receber com freqüência os sacramentos, e pedir também que todos os possam receber.