terça-feira, 22 de março de 2011

Nossa Senhora de Laus

                                                                                                            Valdis Grinsteins (valdisgrinsteins@catolicismo.com.br)

Apelo à freqüência aos sacramentos

Nada mais importante do que acertar nossas contas com Deus durante a vida. A história ocorrida em Saint Etienne de Laus patenteia como a Virgem Santíssima nos incita à freqüência aos sacramentos.

Muitas vezes ouvi, de pessoas com má formação religiosa, que não precisam da Igreja e se arranjam diretamente com Deus, sem necessidade de intermediários. Em muitas delas, essa posição resulta do orgulho: por um lado julgam-se muito valiosas, podendo dispensar intermediários para tratar com Deus; por outro entra a ignorância da majestade de Deus que, estabelecendo a Igreja, determinou que todos os homens precisassem dela para receber os sacramentos. Os sacramentos são de tal importância, que a própria Virgem Santíssima tem aparecido em locais remotos, estimulando as pessoas a que os freqüentem. E algumas aparições se deram em locais minúsculos como Laus, na França.

Aldeia de oito casas
Saint Etienne de Laus fica localizada no sul da França. Ainda hoje tem poucas edificações, mas em 1664 era praticamente deserta. Para isso haviam contribuído as guerras de religião, que devastaram a região e destruíram casas, moinhos, estradas, igrejas, etc. Basta pensar que, das 190 igrejas da região, 120 ficaram inutilizadas. Como acontece habitualmente, com a guerra veio a pobreza. E a família de Benta Rencurel, a menina a quem Nossa Senhora apareceu, era realmente pobre. Aos 17 anos ela cuidava dos animais da família, não sabia ler nem escrever. Era muito simples, residindo próximo à aldeia.
Em maio de 1664 ela cuidava do seu rebanho, quando viu no prado uma Senhora com seu filho. Fez-lhe uma pergunta, mas não obteve resposta. Disse ainda algumas coisas, mas não conseguiu fazê-la falar. Não se importou muito, pois sentia-se à vontade na sua companhia. No dia seguinte, lá estava a mesma Senhora. Novo intento de iniciar conversação, e nada. Isso prosseguiu assim por mais dois meses, mas Benta não desanimou. Afinal a Virgem começou a lhe falar. Durante mais dois meses, diariamente Ela ensinava Benta a rezar, a ser paciente, a desapegar-se das coisas, etc.
No dia 29 de agosto, Nossa Senhora disse que ia se retirar. Benta ficou desolada, sem saber o que fazer, mas após um mês viu uma luz brilhar na colina diante da qual se encontrava. Indo lá, encontrou Nossa Senhora e queixou-se a Ela por ter-se ausentado tanto tempo. Atitude impertinente, até certo ponto compreensível numa simples pastorinha, mas Nossa Senhora lhe respondeu com suavidade: “Quando quiser me ver, daqui para frente, poderá fazê-lo na capela que está em Laus, onde cheira bem”.
A frase pode parecer exótica, pois não seria nada normal reconhecer uma capela pelo fato de que “cheira bem”. Acontece que, apesar de Laus ficar perto do prado onde Benta cuidava dos seus animais, ela nunca tinha ido lá, por ser o caminho de acesso difícil. Além disso a capela local não era grande, parecendo uma casa como as outras.

Capela que cheira bem
No dia seguinte Benta foi a Laus. No sentido mais literal da palavra, como boa camponesa, cheirava de casa em casa para descobrir a tal capela. As casas não ficavam uma ao lado da outra, e ao aproximar-se de uma última construção, notou que ali de fato cheirava bem.
Entrando, viu sobre o altar a Senhora, e esta lhe disse que tinha feito bem, ao ser paciente e procurar a capela. O altar estava coberto de poeira, e Benta ofereceu seu avental para que a Virgem ficasse sobre ele. Mas Ela agradeceu e não aceitou, acrescentando: “Em pouco tempo nada faltará, e você verá toalhas de altar, velas e outros ornamentos. Quero que você faça construir aqui uma igreja em honra de meu Filho. Muitos pecadores e pecadoras aqui se converterão”.
Como os leitores bem podem imaginar, num local tão pequeno as notícias do acontecido correram rapidamente. Mas muitas pessoas não acreditaram e as autoridades ordenaram uma investigação para constatar se algo havia de verdadeiro no que Benta estava contando.
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Em setembro de 1665 começou ai nvestigação. Os membros da comissão, sacerdotes experimentados, inicialmente duvidaram de Benta. Faziam-lhe todo tipo de perguntas escorregadias, mas ela se saiu bem. No quinto dia aconteceu um milagre: Catarina Vial, menina da localidade, inválida das duas pernas, levantou-se e foi caminhando até a capela, para a missa. Diante de milagre tão evidente, o resultado da investigação foi favorável. O passo seguinte era ampliar a capela, ou melhor, construir a nova igreja, conforme o pedido da Virgem. Na capela só cabiam trinta pessoas, o que se agravava por já começarem a chegar peregrinações de outros vilarejos.
Após o início das peregrinações, há relatos de numerosas curas espirituais e morais.
Como a região era pobre, para construir a nova igreja não havia recursos. De forma que se estabeleceu o costume de cada um que fosse em peregrinação levar uma pedra. Assim, com pouco dinheiro e boa vontade, acabaram fazendo tudo. O bom senso das pessoas do campo levou-as a não demolir a pequena capela para fazer a igreja, mas fizeram esta englobando aquela.
Assim como Benta reconheceu pelo perfume onde estava a capela, houve depois numerosas oportunidades em que grupos de pessoas sentiam um perfume desconhecido. Por exemplo, em 1690, de 24 de março até o fim de maio, as pessoas o sentiam, sendo que as flores tinham sido banidas da igreja, justamente para evitar confusões.

Provação e recompensa
Mas não pensemos que tudo correu sempre bem para Benta Rencurel. Em julho de 1692 estourou uma guerra, e o exército do duque de Savóia devastou a região. Benta, como a maioria da população, fugiu durante algum tempo. Ao voltar, tudo estava danificado. Pior ainda, dois dos bons padres que cuidavam da nova igreja haviam morrido. O bispo local nomeou dois novos padres, mas estes eram contra as peregrinações. Chegaram até a proibir, durante 15 anos, que Benta falasse aos peregrinos, os quais só podiam assistir à Missa dominical. Como se fosse pouco, alastrou-se uma epidemia de falsas aparições na região, cada uma mais ridícula que a outra, à maneira das falsas aparições que hoje em dia procuram desvirtuar Fátima. O desprestígio caiu também sobre Benta. Afinal ela superou todas essas provas, e a calma e a ordem voltaram a reinar.
Benta viveu 71 anos, falecendo no dia 28 de dezembro de 1718 em odor de santidade. As aparições foram aprovadas pela Igreja, e no dia 23 de maio de 1855 teve lugar a solene coroação da imagem, realizada pelo cardeal de Bordeaux, com seis bispos, 600 padres e 40.000 fiéis presentes.
Chama a atenção a preocupação de Nossa Senhora com a falta de assistência religiosa numa tão pequena população. Não é que as pessoas do local fossem atéias ou pouco religiosas, pois o fato de terem respondido com entusiasmo ao pedido da Virgem Santíssima para construir uma igreja mostra o contrário. Mas não basta ter boa vontade e praticar a religião sozinho, os sacramentos são indispensáveis. Nessa aparição, Nossa Senhora mostra que eles devem ser recebidos por todos, mesmo que residam em locais minúsculos, de pequena população. Devemos rezar à Virgem, pedindo que nos dê sempre a graça de receber com freqüência os sacramentos, e pedir também que todos os possam receber.